sábado, 30 de janeiro de 2016

Testando cabos de vela

Um dos fatores que podem contribuir com o aumento no consumo de combustível e um funcionamento instável do motor é o sistema de ignição. Velas ruins e cabos de velas danificados, são protagonistas de inúmeros problemas no funcionamento do carro: trepidação na marcha lenta, dificuldade de partida, perda de potência...

Os cabos de vela são muito negligenciados, por serem caros e por não apresentarem um desgaste visível, ao contrário das velas. O desgaste do cabo, com terminais oxidados ou rachaduras no isolamento, não provocam sintomas tão graves quanto uma vela gasta, mas é muito prejudicial para sensores e para o consumo do carro.

Uma rachadura no isolamento do cabo, provoca a oxidação do fino fio de níquel-cromo do núcleo e isso provoca a elevação da resistência interna do fio. O aumento da resistência do cabo de vela, prejudica a condução da corrente e consequentemente prejudica o centelhamento da vela, podendo impedi-lo completamente. Nisso, a sonda lambda faz uma interpretação errada da composição dos gases de exaustão e pode até acender a luz de serviço e vem o maldito P0130 no scanner, mostrando falha na Sonda Lâmbda.

Essas fissuras no isolamento também podem provocar a fuga da centelha. isso significa que parte da corrente será perdida entre o cabo e qualquer superfície metálica aterrada. Ou seja: a centelha pode acontecer em qualquer lugar entre a bobina e a vela, basta ter uma fissura no cabo. Dessa forma, sobra menos energia para a vela.

Mais: quando deixamos a vela se desgastar excessivamente, até o ponto de não conseguirmos dar partida no carro, a bobina tenta compensar o aumento do "gap" pelo desgaste dos eletrodos aumentando a tensão, podendo chegar aos 30kV. (a operação normal é de 12kV). Esse excesso de tensão, provoca o aquecimento do cabo e consequentemente reduz a vida útil.

É necessário saber que existem dois tipos diferentes de cabo de vela: os cabos resistivos e os cabos com terminal resistivo. 
Essa diferença se apresenta da seguinte forma: os cabos resistivos são compostos por um filamento de níquel cromo enrolado em forma helicoidal em torno de um núcleo isolante. Esse enrolamento, produz um campo magnético, que age como uma blindagem eletromagnética, para não gerar interferências de radiofrequência em outros sistemas do carro.
Os cabos com terminal resistivo, possuem um fio condutor sólido, coberto pelas camadas isolantes e blindagens magnéticas e um resistor no terminal da vela.

Existem ainda carros que não possuem cabo de vela e a bobina é instalada individualmente em cada vela (Honda Fit, Chevrolet Onix) e isso tem se tornado bastante comum, pois é um sistema mais preciso e isso gera economia de combustível e redução de emissões, quesitos mandatórios em motores modernos. Nesse caso, se há problema com o sistema de ignição e não é vela, é preciso fazer um teste das bobinas.

Isso significa que a resistência de cabos resistivos varia de acordo com o comprimento do cabo, enquanto nos cabos com terminal resistivo, a resistência é a mesma e determinada pela resistência utilizada no terminal.

Ferramentas:

Régua ou trena: se os cabos utilizados no seu carro é do tipo terminal resistivo, você não precisa da régua.
Multímetro com medição de resistência em kohm (quilo ohm)
Borrifador com água: opcional
Calculadora.

Usando o multímetro, determina-se a resistência de cada cabo.

Faça a medida apenas entre um terminal e o outro.

Medição da resistência no cabo de 28cm: 5,34 kohm

Medição da resistência no cabo de 55cm: 8,98kohm

Importante: faça as medições com os cabos esticados. Dessa forma, é possível dizer se há algum mau contato ou fio partido.

Feitas todas as medições, obtive os valores:

Cabo do cilindro 1: 55cm - 9200 ohm
Cabo do cilindro 2: 49cm - 8040 ohm
Cabo do cilindro 3: 43cm - 7460 ohm
Cabo do cilindro 4: 28cm - 5390 ohm

Em seguida, divida o valor da resistência pelo valor do comprimento (em cm) e multiplique por 100, para encontrar o valor em ohm/m. Dessa forma, temos um valor comparativo entre a resistência dos cabos.

C1: 16727 ohm/m (16,7 kohm/m)
C2: 16408 ohm/m (16,4 kohm/m)
C3: 17348 ohm/m (17,3 kohm/m)
C4: 19250 ohm/m (19,2 kohm/m)

Observa-se que os cabos do cilindro 3 e 4 possuem valores mais altos, mesmo sendo os cabos mais curtos (o que é estranho). Comparando com um jogo de cabos novo (mesma marca e modelo), obtive um comportamento semelhante nas medições, porém cerca de 2kohm/m menor. Ainda assim, segundo manuais de serviço, uma flutuação de até 40% no valor da resistência está dentro da especificação, ainda que eu julgue estupidamente alta essa variação.

Portanto, depois dessas medidas, podemos concluir que não há necessidade de troca dos cabos de vela. O valor da resistência dos cabos é consistente e não há nenhum rompimento no condutor.

Porém uma inspeção visual nos terminais ainda é necessária. Nesse caso, o isolamento do terminal de um dos cabos estava rompido e haviam marcas de "Flash over" naquele terminal (formam-se riscos branco na parte interna do terminal junto à vela). Isso significa que havia formação de arco elétrico entre o cabo e a carcaça do motor, por falha na vela.

Com mais essas dicas, você pode verificar os cabos de vela do seu carro e investigar alguns problemas de falha no motor. Até o próximo Dia de Garagem!