quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Você colocaria "condicionador de metais" no óleo do seu carro?

Essa pergunta foi feita por um amigo meu sobre um produto de venda em varejo oferecido como "Condicionador de metais". Existe no mercado algumas marcas de aditivos com essa finalidade e resolvi investigar um pouco mais a fundo qual é a desse aditivo. Claro que como todo "bom produto", a composição é totalmente obscura, lançando mão de termos genéricos que poucos entendem e pouco diz sobre eles, como "hidrocarbonetos alifáticos", ou ainda mais amplo, "destilados de petróleo". 

Fui investigar de todas as maneiras possíveis e imagináveis os principais componentes dos produtos, mas nem mesmo nas fichas médicas de toxicidade do produto não encontrei nenhuma pista. Há dois motivos para que os fabricantes mantenham tanto segredo: ou a formulação é de fato única (como a receita da Coca Cola) ou não há nada de tão especial assim e eles não querem que você descubra.

Parti para o site para analisar as promessas de cada fabricante e não encontrei nada exatamente diferente do que a função desempenhada pelo óleo lubrificante normal, além da informação "aditivo".

Em vídeos, há uma famosa porém extremamente controversa demonstração da eficácia usando uma máquina Timken (essa demonstração é realmente farsante, pois já foi mostrado que em determinadas situações semelhantes a do teste mostrado, até shampoo age como redutor de atrito tão eficiente quanto o óleo).

Em um dos vídeos de demonstração, o técnico diz que a proteção se dá pela DIFUSÃO do produto na superfície do metal... Opa, essa é minha praia e só posso dizer que esse técnico falou besteira e das grossas. Se ele precisou apelar para difusão é porque todos os outros argumentos foram pro espaço! Ele está falando da difusão de moléculas de hidrocarbonetos (que é o constituinte do condicionador de metais, segundo as fichas técnicas de todos os fabricantes desse tipo de produto) em metais? 

Em metais, só faz sentido falar de difusão na escala atômica, pois há apenas dois mecanismos de difusão conhecidos em metais: o intersticial e a difusão por lacunas. Nenhum desses dois mecanismos abrange a difusão de moléculas tão grandes quanto quaisquer hidrocarbonetos. De fato a difusão pode ser benéfica, mas depende de diversos fatores, como alta temperatura (presente na câmara de combustão) e alta concentração dos elementos a serem difundidos na matriz (o que não ocorre). 

Dada a falta de provas concretas utilizando experimentos confiáveis para a confirmação dos benefícios do tal aditivo, não adiciono e muito menos recomendaria o uso.

Troquei o combustível e o carro não liga mais.

Nos carros mais modernos, esse é um problema praticamente sanado. Mas em modelos mais antigos ou alguns importados que foram transformados em Flex ainda pode ser uma realidade. Então, vamos entender o que acontece para que possamos entender o que fazer.

Quando trocamos o combustível, de etanol para gasolina ou vice e versa, corremos o risco de "afogar" o carro se o sistema não reconhecer o novo combustível a tempo, antes de desligar o motor e ele esfriar completamente, especialmente se for do Etanol para Gasolina. É por isso que no manual do proprietário existe a recomendação de andar com o carro por pelo menos 10 minutos depois de trocar o combustível: esse é o tempo suficiente para que todo o combustível que está nas tubulações seja consumido e o carro passe a funcionar com o novo combustível.

Porque o carro para de funcionar? Quando abastecido com etanol, naturalmente o carro injeta mais combustível na câmara de combustão, respeitando uma proporção de 9 partes de ar para 1 de álcool enquanto que na gasolina essa proporção é de 14 partes de ar para 1 de combustível, para suprir a diferença de mistura com o ar do etanol em relação à gasolina (por isso quando abastecido com álcool o carro consome mais) e diversos parâmetros são utilizados para determinar que tipo de combustível o carro está utilizando, desde sensores no tanque de combustível até a leitura do sensor lambda.

Se o carro não fizer essa comutação do combustível no sistema de injeção, durante a partida a frio no dia seguinte, ele injetará 9 partes de ar para 1 de gasolina, o que torna a mistura demasiadamente rica para que ocorra a explosão. Como resultado, temos o afogamento do motor, que podemos identificar pelo forte cheiro de gasolina saindo pelo escapamento. 

O carro afogou, o que devo fazer?

Há dois métodos para resolver esse problema. O primeiro é encontrar o fusível do circuito da injeção eletrônica ou da bomba de combustível e removê-lo. O segundo é desligar a alimentação elétrica da bomba de combustível. Francamente, o primeiro método é o mais fácil, mas para isso é preciso recorrer ao manual de instruções para identificar o fusível correto.

Em seguida, é hora de dar partida no veículo. A movimentação dos pistões e válvulas fará o combustível evaporar e ser expelido sem que mais combustível entre na câmara de combustão. Em determinado momento, a mistura ar-combustível será adequada para a explosão, assim, possivelmente o carro funcionará por alguns segundos, morrendo em seguida.

Reconecte o fusível ou os terminais da bomba de combustível (depende qual método foi mais fácil) e dê partida no veículo normalmente.