sábado, 24 de outubro de 2015

Óleo: escolha e cuidados.

Quando o assunto é troca de óleo surgem muitas dúvidas e aí acabamos acreditando no que o vendedor está dizendo. Há muita gente honesta nas lojas, vendendo o certo, mas infelizmente não podemos confiar cegamente em todos: será que toda aquela conversa não era só papo de vendedor?

Além de lubrificar as partes móveis do motor, o óleo do motor pode ser um grande aliado na identificação de problemas, assim como o nosso sangue é um importante indicativo da nossa saúde. Bem, há muita informação nesse artigo que abordará muitos aspectos do óleo do motor, desde a simples escolha, até diagnosticar problemas.

Sintético ou mineral?

A dúvida bastante recorrente entre meus amigos é em relação a base: sintética ou mineral? Qual é melhor?

Sempre haverá quem defenda um em detrimento do outro, mas é uma rivalidade que não faz sentido. A tendência é a migração completa para os óleos sintéticos ou semi sintéticos, que permitem com mais facilidade um maior controle da composição e contaminantes do que os minerais.

Na época em que só existiam óleos minerais e os sintéticos começaram a aparecer, houveram problemas de adaptação dos motores, principalmente nas gaxetas e vedações de borracha do motor, que rachavam na presença do lubrificante sintético. O problema é que os óleos sintéticos eram incompatíveis com o tipo de borracha utilizado nas juntas e as corroíam ou ressecavam, provocando vazamentos. Hoje isso já não é mais problema, afinal o problema foi devidamente identificado e contornado e o óleo sintético é sim uma boa opção.

Óleo Valvoline Max Life, óleo sintético para motores "cansados".

Colocar óleo com baixa viscosidade geralmente sintético ou semi-sintético, em carro que requer óleo com viscosidade alta, geralmente mineral, deve-se tomar o cuidado de não escolher um óleo demasiadamente fino, pois óleos finos lubrificam menos! Para usuários que façam aplicações severas do veículo, como transporte de carga, costumam andar com mais de 2 pessoas em trechos com muitas subidas, é melhor seguir com os óleos mais viscosos, dentro dos parâmetros recomendados pela montadora.
O contrário é mais perigoso: colocar óleo muito viscoso, fora de especificação, em veículos que requerem óleo fino. É comum observar que o motor começa a trabalhar pesado, com falhas na lubrificação. Foi o que aconteceu com minha Montana 1.4 - Colocaram o óleo errado (20W-50) em um motor que requer óleo 5W-30 ou mais fino. O sistema de lubrificação do comando de válvulas não vai bem com óleos muito viscosos e aí foi um festival de batida de pino com o motor frio, que assustava. Tirei o óleo imediatamente e coloquei o óleo certo: tudo se resolveu e uma lição foi aprendida: sempre acompanhe a troca de óleo e verifique o que é colocado no carro.

A diferença entre sintético e mineral está na forma como são produzidos. Óleos minerais são retirados diretamente do petróleo, das frações pesadas, enquanto os óleos sintéticos vêm de reações químicas envolvendo frações leves de petróleo, polímeros naturais, alfa-olefinas ou reações de esterificação. Aí a composição e aditivação vai de cada marca e cada uma delas prometem algo a mais, como melhor lubrificação na partida, melhor consumo, maior durabilidade... 
(Óleo Semi-Sintético é uma mistura das duas bases).

O que realmente importa na hora de comprar o óleo?

1. Prestar atenção na viscosidade SAE correta do óleo utilizado pelo seu carro. (0W-20, 10W-30, 15W-40, 20W-50...). Essa informação você encontra no manual do veículo.
O valor acompanhado da letra W (Winter = Inverno) indica a viscosidade do óleo testado em baixas temperaturas. Quanto baixas? entre -5 e -35 graus.  Portanto, podemos perceber que é um valor que faz diferença para poucas regiões do Brasil, mas deve ser levada em conta se você for viajar para a Patagônia. O outro valor é a viscosidade medida a 100°C, aproximadamente a temperatura de operação do motor. Esse sim é de grande importância e deve ser respeitada.

2. Verificar a classificação API: esses caras vão dizer se o óleo, mineral ou sintético, atende as necessidades de lubrificação do seu motor. Os parâmetros são lançados e as fabricantes devem atingir as exigências da especificação. As siglas vão de "SA" a "SN", sendo a SN a mais moderna atualmente. O que quer dizer essa classificação? Ela assegura que o óleo tem poder lubrificante e protetor suficiente para proteger as partes móveis do motor durante a operação. Como? Levando em consideração a aditivação e os contaminantes presentes, bem como a densidade do óleo (densidade é  diferente de viscosidade)

A montadora já escolheu a viscosidade ideal?

Será que a viscosidade não é flexível à escolha do proprietário de acordo com o uso? Por recomendação do fabricante, utilizamos, e inclusive em todo blog eu recomendo, a especificação que consta no manual, assim você não terá problemas com a garantia e não precisa vir me culpar por recomendar algo diferente, mas ainda podemos nos questionar: será que usar um óleo um pouco mais viscoso vai me causar tanto problema?

Note que quanto menos viscoso (mais fino) o óleo a 100°C, menor será a capacidade de lubrificação do óleo nos mancais quando o motor for solicitado (altas rotações, subidas íngrimes, anda/para: as famosas aplicações severas) que aumentam consideravelmente a temperatura do motor e reduz a vida útil do óleo. Levando em consideração apenas a viscosidade, um óleo 5W-30 suporta mais carga que o óleo 0W-20 em troca de um funcionamento um pouco mais pesado, com maior consumo de combustível, compensado pela qualidade superior da lubrificação.

Para concretizar um pouco as diferenças, devemos levar em consideração a "Viscosidade cinemática" do óleo. De acordo com o site www.viscopedia.com, à 100°C o óleo 10W-30 apresenta valores de viscosidade cinemática de até 12,5mm²/s enquanto o 5W-20 até 9,3mm²/s (diferença maior que 25%, que é bem considerável em um equipamento).

Então, porque não utilizar um óleo 5W-30 em um veículo que o recomendado é o 5W-20, já que o óleo mais viscoso oferece mais qualidade de lubrificação em altas temperaturas? Muitos fóruns norte-americanos contestam essa escolha da montadora e se valem de diferenças entre a lubrificação recomendada nos EUA (5W-20) e a lubrificação recomendada na Inglaterra (10W-30) para o mesmo motor. A justificativa das montadoras, nesse caso, é de que o óleo mais fino contribui com a redução no consumo de combustível.

Ainda assim, uma publicação estrangeira "Machinery Lubrication", especializada em lubrificação de maquinas, escreveu um artigo no qual contesta a escolha do lubrificante mais fino, assegurando que o lubrificante mais viscoso não afeta drasticamente o consumo de combustível, além de oferecer maior proteção ao motor e relaciona o possível aumento de consumo de combustível com o tempo, devido ao maior desgaste do motor ao utilizar um lubrificante mais fino.

A decisão é bem difícil, mas se for para aumentar a viscosidade em busca de uma maior proteção das partes internas do motor, faria me baseando em manuais de serviço que mostrem que o aumento da viscosidade do óleo não vai afetar o funcionamento, até porque, há um outro grande problema quando se aumenta indevidamente a viscosidade de um óleo: a formação de um lodo nas frestas das peças móveis.

Sobre a classificação API.

Deve-se ter em mente que todos os lubrificantes são aditivados e esses aditivos vão promover a formação de um filme de óleo na superfície das peças ajudando os óleos a terem uma melhor performance. Nesse quesito a classificação API começa a dar as caras. A especificação SN supera todas as outras anteriores SM, SL, SJ, SH, SG.

A classificação API vem com o intuito de melhorar e sanar problemas no motor relativos à lubrificação, como formação de borra ou goma devido a óleos densos, reduzir a oxidação do óleo e melhorar a formação da camada protetora com o uso de aditivos, limitar os contaminantes e etc.

Quão ruim pode ser colocar um óleo SL em um motor que requer óleo SN? Bastante. Motores que exigem a última geração de óleo, geralmente possuem tolerâncias de engenharia mais "apertadas" e um óleo menos eficiente pode ser extremamente prejudicial, abrindo caminho para a formação de borra pela degradação do óleo, que levariam ao travamento do comando de válvulas, condenando o motor.

Papo de sala de espera de oficina:

"O óleo mineral aguenta 5 mil km e o sintético aguenta 10 mil km": É verdade que óleos sintéticos são mais longevos, pois são mais suscetíveis a formação de gomas e mais estáveis quimicamente, ao contrário do óleo mineral, que sofre com efeitos de envelhecimento. Alguns especialistas do setor de lubrificação dizem que esse tempo máximo de troca de óleo é um mito que as montadoras perpetuam em benefício próprio. Muitos veículos modernos, utilizando-se de óleos sintéticos com alta tecnologia de aditivos, poderiam, seguramente, utilizar intervalos de troca maiores, mesmo em "Aplicação Severa" e uma análise química do lubrificante aos 5 mil e aos 10 mil km apresentam variações de propriedade que não superam os 10%.
"Me ofereceram óleo recuperado, dizendo que ele passa por rigorosos procedimentos de qualidade e é bem mais barato": pelo amor ao motor do seu carro, diga não. Use apenas óleo novo. Óleos recuperados são uma mistura completa de óleos minerais, sintéticos, de todas as marcas e todas as contaminações que sai do cárter de motores diversos. Não há controle da matéria prima e o óleo recuperado tem um comportamento reológico (de viscosidade) inadequado.

"Pode-se colocar óleo para motor Diesel no motor a Gasolina?" Essa já foi minha dúvida e cheguei a conclusão que sim. Na embalagem do óleo Mobil Delvac Power 15W-40 está escrito que atende ou excede as especificações CI-4, CH-4, SL e SJ. Portanto, se seu carro precisa do óleo API SL / SAE 15W-40, esse óleo atende as especificações. Na prática nunca coloquei, apesar de ter 13L dele em casa, que sobrou da minha antiga S10, por um simples motivo: nunca vi nenhum relato sobre sucesso ou insucesso dessa prática e não tenho nenhum motor disponível para fazer esse teste. Em alguns fóruns norte-americanos os usuários relatam que o uso do óleo para veículos a Diesel por 500km entre a troca de óleo, ajuda a manter o motor limpo, mas alertam para não pegar estrada nesse período.

"Se o carro estiver queimando óleo, use um óleo mais viscoso": Você deve manter a viscosidade recomendada pela fábrica em motores com alta quilometragem (superior a 150 000km) mesmo queimando óleo. Caso o veículo comece a queimar óleo, deve-se verificar as causas e não tentar remediar com óleos mais "grossos" ou aditivos que alterem a viscosidade. Essa prática apenas agrava os problemas devido a lubrificação deficiente e assim mais rapidamente o motor do seu carro será danificado.

"Minha cidade é muito quente, passa dos 40 graus. Devo utilizar um óleo mais viscoso?": Não há necessidade. O motor trabalha sempre em uma faixa de temperatura muito bem definida: em torno dos 90 graus e os testes de viscosidade são realizados com o fluido a 100 graus. A temperatura, em motores refrigerados a água, é controlada pela válvula termostática, que regula a vazão do líquido de arrefecimento, conforme a necessidade de se retirar mais calor ou não. No caso de veículos com refrigeração a ar ela é suficiente enquanto estiver em movimento e nos períodos com o veículo parado (e consequentemente em baixa rotação, produzindo menos calor) a lubrificação é mais que suficiente. Fique sempre atento ao termômetro do carro. Sempre que apresentar aumento excessivo de temperatura, pare o veículo imediatamente!

O uso de aditivos no óleo.

Os aditivos foram muito comuns no começo dos anos 80, quando surgiram muitos problemas com o óleo do motor e combustíveis. Havia um sério problema de formação de grande quantidade de goma densa de óleo no cabeçote dos motores e que frequentemente travavam o motor. Este fenômeno ficou conhecido como "Black Death". Devido a ele o uso de aditivos se popularizou, principalmente porque as pessoas tinham receio de que o motor pudesse travar repentinamente e a causa era exatamente a instabilidade química do óleo sob condições severas de uso.
Com o surgimento dos óleos sintéticos, o uso de aditivos de prateleira foi deixado de lado. A grande maioria das fabricantes de óleos não recomendam o uso de outros aditivos externos sobre seus produtos, pois reações indesejadas podem acontecer entre os aditivos presentes e o aditivo extra, o que compromete a performance da lubrificação.

No entanto, tem se observado a formação de depósitos lodosos em motores modernos, provenientes da degradação dos agentes alteradores de viscosidade (geralmente são cadeias de polímeros) utilizados em óleos sintéticos. Essa degradação, forma uma goma rica em polímero, que adere na superfície metálica, prejudicando a lubrificação ao mesmo tempo que faz o óleo perder viscosidade e piora ainda mais a qualidade da lubrificação.

Dicas para o dia da troca de óleo.

1. Verifique e anote as especificações do óleo recomendado e a quantidade no manual do veículo. (com a troca do filtro, é necessário um volume ligeiramente maior de óleo)
2. Leve ao posto de troca de sua preferência, munido de todas essas informações. A escolha da marca vai ao gosto do freguês.
3. Acompanhe a troca, para assegurar que o óleo velho foi todo removido e o novo foi devidamente colocado e verificado o nível: o óleo deve ser colocado até a marca de "máximo". Dê preferência aos postos que trocam o óleo abrindo o dreno do cárter e não por sucção.
4. Antes de ir embora, com o motor ligado em ponto morto, verifique e assegure que a luz de baixa pressão do óleo está apagada. Se estiver acesa, avise o mecânico e verifique o nível do óleo e possíveis vazamentos de óleo na junta do filtro. Durante dois dias, verifique possíveis vazamentos de óleo no chão da garagem. (coloque uma folha de jornal no chão, sob o motor do carro).