terça-feira, 3 de novembro de 2015

Cuidados primordiais com a mecânica: os erros mais comuns.

Às vezes prejudicamos nosso carro sem saber quanto mal estamos fazendo a ele. São erros diários, vícios de direção e descuidos dos mais variados tipos. Com esse artigo pretendo expor aos leitores os erros mais comuns e prejudiciais que observo e sugestão de como evitá-los.

1. Dirigir com o motor frio:
A pior situação é quando ligamos o carro de manhã e saímos dirigindo como se estivesse tudo bem. É preciso lembrar que depois de um período de repouso do motor, a partir de 1h desde que foi desligado, todo o óleo foi para o cárter, a parte mais baixa do motor, e esfria, deixando outras partes (camisa do pistão, comando de válvulas e assento dos pistões nas bielas) desprotegidas do lubrificante (sobra apenas uma camada muito fina sobre as superfícies). O óleo também está em seu estado menos eficiente: está frio e com a viscosidade mais alta.


O certo é deixar o motor pelo menos 15 segundos ligado antes de sair com ele para assegurar que todas as peças internas receberam uma lubrificação adequada e evitar ao máximo rotações acima de 2500 rpm, até que o ponteiro do termômetro esteja próximo de 1/4, que dá aproximadamente 60 graus e isso equivale a dirigir o carro por 2km.

Com esse cuidado, você prolonga consideravelmente a durabilidade do motor, evitando problemas prematuros nas peças móveis.

2. Ligar o carro sem pisar a embreagem:
Não é tão grave quanto sair dirigindo o carro com motor frio, mas criar o hábito de ligar o carro com a embreagem acionada poupa o motor de arranque de realizar esforços desnecessários e isso contribui com a vida útil do motor de arranque e da bateria!

Isso acontece porque quando a embreagem não está acionada o motor está conectado à caixa de marchas e mesmo que uma marcha não esteja engatada, o eixo principal do câmbio será movimentado durante a partida, girando todas as engrenagens dentro da caixa de câmbio, ou seja, um monte de esforço desnecessário. Pisar no pedal da embreagem desacopla o motor da caixa de marchas, facilitando o trabalho do motor de arranque.


Tomando o cuidado de pisar a embreagem quando se liga o carro, você também preserva a bateria. Simples: cada bateria tem um valor máximo de fornecimento de corrente para o arranque (CCA/HCA - Cold Cranking Amps e Hot cranking amps - que é a amperagem disponível para o arranque medida à -18°C / +25°C).
O motor de arranque exige, pelo menos, 350A da bateria no momento da partida. Diminuir a carga no arranque, pode aliviar até 50A e isso é muito benéfico para a bateria, pois haverá menor necessidade de transformar energia química em energia elétrica, preservando as placas da bateria.

3. Acelerar antes de desligar:
Essa é para a galera da época do carro carburado. Naqueles tempos era costume acelerar o carro antes de desligar, para "encher" o carburador e facilitar a partida no dia seguinte. Pois é, em carros com injeção eletrônica isso não é mais necessário e sabe-se que a prática sempre foi prejudicial ao motor. 

O problema é que essa última acelerada, joga combustível no coletor de admissão, que eventualmente escorre para dentro dos cilindros. Essa pequena quantidade de gasolina residual, carrega possíveis resíduos de carbonização das válvulas e contamina o óleo (a gasolina escorre pelas paredes da camisa do pistão). Quando ela seca no coletor de admissão forma goma, que pode acumular as partículas muito finas de poeira que o filtro de ar não separou. Além do mais, essa gasolina residual, suja as velas e acelera o acúmulo de depósitos na válvula EGR (presente em carros mais modernos), gerando instabilidade na marcha lenta.

4. Desligar carros Turbo assim que parar:
Desligar um carro com Turbo sem dar um tempo para o rotor estabilizar é bastante prejudicial para a turbina, principalmente ao parar no posto depois de ter dirigido na estrada ou em regimes de rotação altos (acima de 3000 rpm). A turbina é um equipamento que trabalha em altas temperaturas (no caracol quente, onde o rotor é acionado pelos gases de escape) e em altas rotações (de 25 a 50 mil rpm), tem os mancais lubrificados pelo próprio óleo do motor e, em alguns casos, é refrigerada pelo sistema de arrefecimento do carro.


Antes de desligar o carro, deixe o motor em marcha lenta por pelo menos 30 segundos, para que a turbina possa atingir uma temperatura menor que a temperatura de trabalho e para que a lubrificação dos mancais se estabilize.

5. Não ter o hábito de checar o nível dos fluidos:
É muito perigoso e abre precedente para alguém tentar te passar a perna. Alguns fluidos devem ser verificados com o motor frio (óleo, radiador, freios e direção hidráulica) e  não com o motor quente, como no posto de gasolina. A água do lavador de para brisa também merece atenção, afinal é um item de segurança e geralmente só lembramos de repor quando acaba.


A verificação do nível do óleo é extremamente importante, pois assim é possível acompanhar se o carro está queimando óleo ou se está havendo alguma contaminação. O mesmo vale para todos os outros fluidos.
Lembre-se: toda vez que o fluido estiver ENTRE a marcação de máximo e mínimo, não é necessário completar!

6. Usar óleo errado:
Algumas pessoas são levadas pelo preço do óleo e em alguns casos, vendedores inexperientes orientam de forma errada o proprietário leigo. O motor é projetado para trabalhar em uma certa faixa de viscosidade de óleo e não há nenhum argumento que seja válido para contrariar essa recomendação. Se um carro "pede" 10W-30 SL, deverá ser colocado óleo 10W-30 SL (pode ser SM ou SN também), mas NUNCA 10W-40 ou 20W-50.

O hábito de aumentar a viscosidade do óleo em motores que estão queimando óleo só piora a condição do motor.

Óleos mais baratos geralmente são óleos de alta viscosidade e de baixa qualidade (SF, SG, SJ), que quando não atendem a especificação requerida, produzem efeitos desastrosos no motor. O óleo errado é suficiente para comprometer um motor em pouco tempo.

7. Não verificar a pressão dos pneus semanalmente:
Às vezes só lembramos de calibrar os pneus quando vemos que ele está baixo. Um pneu murcho tem a vida útil reduzida, faz o carro consumir mais (aumenta o gasto em até 1km/l)  e afeta a dirigibilidade. O mesmo vale para pneus cheios demais.
Calibre os pneus toda semana (ou pelo menos toda vez que abastecer o veículo) e/ou toda vez que a temperatura variar demais (+/- 10°C). Lembre-se de calibrar o estepe mensalmente.

8. Não verificar o desgaste dos pneus:
Quando um carro está com alinhamento, geometria ou balanceamento irregular, o pneu é muito prejudicado, sem falar da dirigibilidade e a segurança que ficam comprometidas. O pneu se desgasta de forma desigual ("comendo" por fora ou por dentro). Isso é o indício explícito de que a cambagem está errada. Depois que um pneu se desgastou incorretamente, não tem alinhamento que o faça voltar a gastar por igual. Quando a diferença é visível, pode-se dizer que é tarde demais e aquele pneu estará comprometido até que um dos sulcos atinja a profundidade mínima e a troca seja efetuada.


9. Negligenciar manutenção preventiva:
É um erro muito comum pessoas deixarem de verificar periodicamente o veículo e ultrapassar as recomendações de fábrica, alegando que eles trabalham com médias e às vezes você é obrigado a trocar peças muito antes do fim da vida útil delas. Sim, isso é verdade, eles trabalham com médias. Mas para negar as orientações de fábrica, você precisa saber muito bem o que está fazendo e não esperar a peça ir até a quebra para trocar: isso não é economia.

Existem valores máximos e mínimos que devem ser respeitados, como espessura mínima do material de atrito das pastilhas e lonas, espessura mínima do disco de freio, pressão mínima dos amortecedores, diluição máxima de água no fluido de freio, etc. Se você não tiver certeza sobre esses valores, siga as recomendações de fábrica.

10. O pai de todos os males: não ler o manual.
A falta de informações a respeito do seu carro é a principal fonte de erros com a manutenção do carro e com espertalhões. Alguns manuais são especialmente mal escritos, mas nas páginas finais, existem diversas tabelas com as informações fundamentais, inclusive tempos de manutenção. Toda vez que precisar executar algum serviço no seu carro, fique atento aos valores e informações sobre seu carro.
Tome um tempo para a leitura do manual. 

Faça um cartão com todas as informações mais básicas e ande com ele junto ao documento do carro. Economiza muito tempo dentro de uma loja de autopeças e às vezes te livra de um prestador de serviço desonesto.

Tipo de óleo: Anote a viscosidade, a classificação API e o volume de óleo necessário. Por exemplo: "SAE: 10W-30, API: SM, 3.5L" ou "SAE 5W-20, API SN, 6.4L"
Tamanho de pneu: Anote a largura, perfil, aro, índice de carga e índice de velocidade e pressão. Por exemplo: "185 65 R14 88H, 32psi" ou "235 75 R16 104T, 35psi"

Outras informações legais de se ter à mão: anote o modelo da peça de pelo menos uma marca.
(Cada link te direciona para a tabela de aplicação de um fabricante para que você consulte o modelo do seu carro):

Vela: NGK
Filtro de óleo: Fram Tecfil Mann
Filtro de ar: Fram Tecfil Mann
Palhetas: Dyna Bosch

Os cuidados corretos com o veículo prolongarão muito a durabilidade, valoriza o carro e você recebe muitos elogios. São pequenos gastos feitos hoje para poupar muito dinheiro no futuro.